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BRUTALISMO NAS REDES SOCIAIS: O Símbolo de Status Bruto e Autêntico da Era Digital

  • Foto do escritor: Nina Delecolle
    Nina Delecolle
  • 10 de mar.
  • 4 min de leitura

(Esse não é um texto a favor da ascensão do movimento de estética brutalista, esse não é um texto contra a ascensão do movimento de estética brutalista, esse é um texto que aponta a ascensão da estética brutalista como um contra-ponto à estética clássica massificada pela comunicação nas mídias sociais.)


Em uma era onde tudo é hiper-curado, otimizado por algoritmos e esteticamente projetado para gerar o máximo de engajamento, pode-se apontar um força rebelde que surge na esfera digital: o branding brutalista nas redes sociais. O que começou como um movimento arquitetônico—definido por suas estruturas de concreto nu, funcionalidade sem concessões e rejeição total da ornamentação— se apresenta agora nos espaços digitais.


A filosofia do brutalismo é clara: eliminar o supérfluo, rejeitar o polido e apresentar as coisas como realmente são. Esse estilo, uma vez considerado áspero e pouco atrativo, vem sendo lido agora como um símbolo de exclusividade, intelectualidade e uma rejeição às normas convencionais do mundo digital.


Optando por contrastes fortes em vez de tons pastéis, fontes minimalistas estruturadas no lugar de tipografía decorativa, e legendas enigmáticas substituindo hashtags e CTAs diretos, um número crescente de criadores, artistas, músicos e marcas de luxo vem adotando essa estética.  


A mensagem? Se você entende, entende. Se não, talvez não seja para você.


As Origens do Brutalismo: Do Concreto ao Mundo Digital


O termo brutalismo vem da expressão francesa béton brut, que significa "concreto bruto". O movimento arquitetônico surgiu no pós-Segunda Guerra Mundial, como uma resposta à necessidade de reconstrução rápida e econômica das cidades devastadas. Arquitetos como Le Corbusier, Alison e Peter Smithson e Marcel Breuer foram os grandes nomes desse estilo, projetando edifícios que eram monumentais, geométricos e totalmente desprovidos de ornamentação.


O brutalismo não tratava de beleza tradicional, mas sim de honestidade estrutural. Os prédios não escondiam seus materiais e evitavam qualquer elemento decorativo desnecessário. As construções pareciam quase duras, impenetráveis, futuristas. Com o tempo, essa estética se tornou polarizadora: alguns viam o brutalismo como uma arquitetura opressiva e fria, enquanto outros o reverenciavam por sua ousadia, brutalidade e honestidade estética.


Yale Art and Architecture Building, Paul Rudolph (1963) / Unité d’Habitation, Le Corbusier (1952) / Whitney Museum of American Art, Marcel Breuer (1966) / IBM Research Center, Marcel Breuer (1962)
Yale Art and Architecture Building, Paul Rudolph (1963) / Unité d’Habitation, Le Corbusier (1952) / Whitney Museum of American Art, Marcel Breuer (1966) / IBM Research Center, Marcel Breuer (1962)

Hoje, os mesmos princípios que definiram a arquitetura brutalista—crueza, funcionalidade e rejeição às normas estéticas convencionais—vemos traduzidos para o mundo digital, especialmente no branding pessoal e nas redes sociais.


A Ascensão do Branding Brutalista nas Redes Sociais


O renascimento do brutalismo digital é, de muitas formas, uma resposta à monotonia visual das redes sociais modernas. Os feeds cada vez mais organizados em grids perfeitos, as fotos filtradas para traduzirem vidas impecáveis, os posts que seguem fórmulas para otimização de engajamento.


Nesse contexto, destacar-se significa quebrar essas regras.


O branding brutalista prospera justamente na intencionalidade do desconforto visual. Ele adota layouts desestruturados, imagens granuladas ou distorcidas, tipografia descomunal e cores contrastantes. Ao contrário do design tradicional, que busca criar uma experiência fluida e agradável para o usuário, o brutalismo digital desafia a audiência, exigindo esforço para decifrar e interagir com o conteúdo.


Essa abordagem tem sido adotada de forma ampla por marcas de moda de luxo, músicos fora da cena mainstream e influenciadores considerados até certo grau disruptivos, que entendem que, em um mundo de gratificação instantânea, tornar a interação digital mais difícil cria um senso de exclusividade e sofisticação conceitual.


Como Influenciadores e Marcas Estão Dominando a Estética Brutalista


No mundo da moda de luxo, a marca Balenciaga está na vanguarda dessa tendência. Sob a direção criativa de Demna (clica no link, encontra um perfil com 355k seguidores e nenhuma postagem, e um reforço do que estamos tratando aqui), a marca se afastou da publicidade tradicional e abraçou uma identidade digital brutalista e provocativa. No lugar de imagens de tom polido ou elegante, a Balenciaga frequentemente publica fotos de campanha lavadas, superexpostas e com fontes padrão. Muitas vezes, as postagens sequer têm legendas. A mensagem é clara: "Não precisamos convencê-lo de que somos uma marca de luxo. Se você está aqui, você já sabe."

Fonte: Reprodução
Fonte: Reprodução

Outro exemplo icônico é Bloody Osiris, influenciador e diretor criativo do universo da moda streetwear. Seu Instagram pode ser lido como uma rebelião visual cuidadosamente arquitetada—com fotos sem edição, layouts desconexos e imagens que parecem retiradas de um fanzine punk dos anos 90. Rejeita qualquer tentativa de uniformidade visual e, ao fazê-lo, constrói uma identidade genuína, crua e inacessível para o mainstream.

Fonte: @bloodyodiris
Fonte: @bloodyodiris

Por Que Essa Estética Funciona na Era Digital


O branding ancorado numa filosofia brutalista pode parecer, à primeira vista, uma escolha desordenada e até, por uma perspectiva simplista, feia. Mas precisa ser lida como uma estratégia altamente intencional. A falta de polimento não é um descuido, é um posicionamento calculado.


Em um ambiente onde tudo é projetado para maximizar a visibilidade e a compreensão imediata, o brutalismo vai contra a corrente. No lugar de facilitar a experiência do usuário, ele desafia a audiência a se envolver mais profundamente.


Além disso, o brutalismo digital pode ser lido como um sinalizador de exclusividade. Marcas ou criadores que não seguem as fórmulas tradicionais de otimização digital—como o uso de hashtags ou chamadas diretas para interação—deixam um recado: "Não buscamos validação em massa."


Particularmente para a Geração Z, que cresceu desacreditando na autenticidade dos influenciadores tradicionais, a verdadeira autenticidade não está em feeds perfeitamente equilibrados, mas sim no inesperado e na quebra das regras estabelecidas.


O Brutalismo Como o Futuro do Luxo Digital


À medida que o ambiente digital se torna cada vez mais homogêneo, previsível e pasteurizado, cresce a curiosidade por algo desconfortável, disruptivo e difícil de digerir. O brutalismo, antes uma estética marginalizada, tornou-se uma nova forma de luxo digital—uma que rejeita o previsível em favor do bruto, do conceitual e do profundamente exclusivo.


Para aqueles que dominam essa linguagem, o brutalismo digital não é apenas um estilo. É um manifesto em si. Na era da atenção fugaz - para indivíduos que se enxergam nos princípios que embasam a filosofia por trás do movimento, assumir uma postura brutalista de eliminar o supérfluo, comunicar de forma direta, e apresentar as coisas como elas realmente são, pode ser a estratégia de posicionamento mais acertada.

 
 
 

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