CAPITAL CULTURAL - Confluência entre cultura e curadoria identitária na construção de comunicação
- Nina Delecolle

- 24 de fev.
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de fev.

Ampliar a conversa sobre branding - especificamente branding pra pessoas, aquele que - como tudo o que se propõe tratar com questões humanas - lida com uma subjetividade ainda mais aprofundada , é objetivo das conversas por aqui.
Adicionar perspectivas diferentes pra discussão sobre o universo do branding é a maneira como gosto de contribuir pra construção de raciocínios que precisam resultar, quando se faz branding na prática, em expressões de marcas que não se confundem com outras e que criam pra si um espaço que não pode ser ocupada por outro.
Olhando pra cenário global, pra homogeneização do conteúdo que se encontramos publicado em perfis online, e pra clara complexidade que existe hoje no momento de entender o como estar presente de uma maneira fiel a si, e eficiente, uma conversa sobre capital cultural me parece interessante por aqui.
Se um dos pilares que fundamentam o que chamamos de branding é contexto, e por contexto se entende a inserção adequada de uma marca no universo ao qual ela pertence, então olhar pra cultura e pra cenários é fundamental. Em duas partes: cultura e cenários externos (o mundo em que me encontro inserida), e cultura e cenários internos (quem sou eu, quais são as referências e vivências que me compõem, de que maneira isso se encontra expresso na forma como me coloco no mundo).
A comunicação, em sua essência, transcende a transmissão de informações e se estabelece como um campo de significados interligados ao contexto cultural e à subjetividade de cada indivíduo. Em um cenário saturado de discursos e imagens, a diferenciação não reside apenas no conteúdo transmitido, mas também e muito, na forma como ele é articulado dentro de um universo simbólico próprio e coerente - e a qual universo, dentre os infinitos que formam a pluralidade que vivemos hoje - essa marca realmente pertence.
Um dos objetivos das conversas que proponho aqui é entender como uma marca relevante não só carrega os sinais de pertencimento do mundo em que habita, mas também, como faz uso de um capital cultural próprio para se colocar nesse cenário global, ocupando um espaço fiel ao que de fato representa - e entendendo a importância da criação de um universo composto por robustos pilares que unem discurso e expressão imagética.
No universo das marcas, compreender o contexto cultural implica mais do que seguir tendências; trata-se de identificar e decodificar (em si e no contexto externo) padrões socioculturais e entender como determinadas mensagens dialogam com questões identitárias, políticas e emocionais de uma audiência específica.
O capital cultural do qual é formado uma marca pessoal é uma das mais importantes fontes de onde se resgatam os elementos subjetivos que irão compor um posicionamento que, dessa forma, é por natureza único, livre de cópias e genuíno em seu core. Se o contexto cultural estabelece os códigos compartilhados de uma sociedade ou grupo específico, o universo individual é aquilo que singulariza a comunicação e a torna única - e a curadoria identitária, (o processo de identificar, selecionar e organizar - entre aqueles presentes na cultura, os elementos que fielmente representam a identidade de uma pessoa) possibilita a construção de um posicionamento que não apenas informa, mas evoca sentimentos e memórias, gerando forte sensação de pertencimento.
A presença de um ponto de vista próprio faz parte dessa equação, tanto no que diz respeito às afirmativas que fundamentam uma marca, quanto do ponto de vista visual - imageticamente marcante e reconhecível.
Se por cultura entendemos um conjunto de valores, símbolos, referências estéticas e linguagens visuais - são esses elementos, somados a histórias pessoais, que precisam estar presentes de maneira muito clara quando o objetivo é um resultado que se diferencia da massa homogênea. São esses os códigos, em grande parte, que possibilitarão a construção de narrativas ressonantes com um público pré-identificado, sem o qual a comunicação não tem chances (ou motivo para) sustentação.
O equilíbrio entre o contexto cultural e o universo individual é a base para estratégias de comunicação relevantes. Mensagens que apenas seguem padrões culturais podem parecer genéricas e destituídas de personalidade, enquanto aquelas que ignoram as dinâmicas e contextos sociais correm o risco de serem incompreendidas ou lidas como desconexas à realidade.
Pra aprofundar:
O episódio "The State of Luxury", do podcast StyleZeitgeist, onde Eugene Rabkin entrevista Ana Andjelica, em uma conversa sobre a influência da cultura influencia no mercado do luxo e da moda.
O episódio "Jacquemus: A Coming of Age Story", do Business of Fashion Podcast, numa entrevista que evidencia a conexão entre a marca pessoal do fundador da empresa de luxo e a maneira como a mesma encontrou e consolidou espaço no mercado de moda.
Pra quem prefere ouvir, aqui o texto em forma de áudio, com uma intro especial:
Sempre bom te ouvir/ler.
Que lindo agora poder não só VER Nina, mas também ler e ouvir! Sempre bom ter mais pontos de vista de forma aprofundada nesse universo digital.