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TODO MUNDO CANSOU. (Sobre a Hiperbolização do Eu)

  • Foto do escritor: Nina Delecolle
    Nina Delecolle
  • 28 de abr.
  • 3 min de leitura

Tem uma coisa que motiva a minha atuação enquanto profissional de branding pra pessoas: eu acredito profundamente no direito de ocuparmos o espaço que nos cabe, e eu sou feliz ajudando pessoas a construir os seus. 


Tem uma máxima adquirida pela minha experiência de mercado, também: a de que - via de regra - os profissionais mais competentes são aqueles que menos espaço ganham. E os que falam mais alto são os que mais reconhecimento têm. 


Nota que as duas coisas juntas (a motivação e a experiencia adquirida), não participam de uma conta que fecha, e o resultado é uma insatisfação individual presente de forma constante, que também se traduz numa espécie de combustível propulsor. 


Em se tratando de branding pra marcas pessoais, o produto final das pessoas que tenho como clientes é serviço. Dos mais diferentes tipos - seja fotografia, arquitetura, estilo, comunicação. Por regra não são pessoas que vendem produtos físicos, mas conhecimento, estudo e experiência. São pessoas cujos serviços têm resultados reais e tangíveis, mas cuja natureza é em si subjetiva. A matéria prima não é palpável, e o bastidor é composto muitas vezes por horas e horas passadas atrás da tela de um computador. Não têm - diante de si, quando se fala de comunicação - um produto cujos atributos sejam visíveis, que podem ser dissecados, tocados, virados do avesso. 


Os atributos são pessoais. 


São pessoas que se vêem tendo que promover quem são - no que acreditam, como chegaram até ali, quais são suas visões de mundo e o quê as embasam. E que precisariam, a priori, aprender a fazer as pazes com uma sensação desconfortável de “autopromoção” que - nenhuma surpresa aqui - muitas vezes não fecha com a personalidade do indivíduo por trás do profissional. 


Nem todo mundo nasceu pra direcionar um holofote à si mesmo. Nem todo mundo quer um holofote direcionado a si mesmo. Muita gente só quer fazer o trabalho e viver a vida real sem mostrar a vida que leva - e um cenário (agora já de anos) onde trabalhar marca pessoal se tornou norma não fez com que esse se transformasse num movimento mais palatável.


O meu contato é diário - a nível pessoal e profissional - com pessoas que, por mais convencidas que estejam do momento de mundo digital em que vivemos, sentem um cansaço quase instransponível quando o assunto é comunicação digital mesmo sabendo das regras do jogo que se joga hoje. 


A era é dos extrovertidos, disso eu me encontro convencida há tempos. E eu continuo no movimento de entender e construir os espaços, as maneiras, os formatos, possíveis também para os introvertidos. 


A agenda cheia, uma vida pessoal carregada, as demandas que se sobrepõem umas às outras, a velocidade de uma vida cada vez mais acelerada e a pressão por desempenho - eu olho pra mim mesma e toda essa lista eu também sinto na pele. A vontade de manter uma boa parte da minha vida só pra mim e pros meus, também. 


Talvez daí a escolha de ocupar um espaço no mercado de branding que fale mais sobre as verdades que a gente carrega e as bandeiras que quer ver avançar, do que necessariamente o estilo de vida e a rotina que se leva. Também por ver o resultado que se tem quando se pauta comunicação com foco maior em uma visão de mundo, e não numa dinâmica pessoal. 


O que não falta é material que ensine a autopromoção. E existe espaço pra tudo no mercado. Eu, hoje, me encontro do lado de quem tá cansado da “hiperbolização do eu”. Aquele fenômeno de exagerar, dramatizar ou amplificar a própria identidade, personalidade, emoções ou experiências. Pra causar impacto, obter reconhecimento, admiração ou validação.


A mercantilização da identidade é armadilha fácil numa dinâmica que recompensa narrativas pessoais dramáticas e eventos épicos. A gente sabe que a vida não é feita de uma sucessão de eventos épicos - mas o eu real é adaptado para atender à expectativa de um público, levando a uma hiperbolização de traços que vendem melhor. 


O desgaste emocional é inevitável por parte de quem entra na dinâmica, e eu entendo o cansaço de quem não tem instinto pra isso. 


Em tempos em que o espetáculo é regra, caminho na direção de construir marcas que resistem à necessidade de se hiperbolizar para existir. 


Ocupar espaço não precisa ser sinônimo de uma autopromoção desenfreada.


Existe força no que é genuíno.

 
 
 

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